Não podemos aceitar a naturalização da violência
Um dia para guardar na memória e para entender o quanto é importante falar e tratar o tema Violência Obstétrica. Esse sentimento envolveu as mais de 120 pessoas que estiveram presentes na sede da Federação dos Trabalhadores em Saúde do RS – FEESSERS no dia de ontem, 14/07, participando ativamente do Seminário sobre Violência Obstétrica, organizado pelas secretarias da entidade, das pastas de Política das mulheres, de Formação, de Raça, Juventude e Diversidade Sexual e Imprensa e Divulgação. A mesa foi coposta pelo presidente Milton Kempfer, o representante da CNTS Valdirlei Castagna, as diretoras Margarete Resmini e Elaine da Costa de Oliveira e o diretor Andrei Rex.
A Violência Obstétrica trata da apropriação do corpo e processos reprodutivos das mulheres por profissionais da saúde, por meio de tratamento desumanizado, abuso de medicalização e patologização dos processos naturais, causando perda da autonomia e capacidade de decidir livremente sobre seus corpos, impactando na sexualidade e negativamente na qualidade de vida das mulheres.
Pela manhã, o evento recebeu a palestra da juíza Daniela Valle da Rocha (2ª Diretora de Cidadania e Direitos Humanos, membro da AJD – Associação de Juízes para a Democracia e que foi advogada nas áreas de Direitos Humanos e Trabalhista). Daniela fez um importante resgate da História da vida e da liberdade individual, lembrando os princípios da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade -, cujo lema encontra forte dificuldade na concretização da fraternidade.
É preciso mudar a cultura da sociedade, para que possam entender o conjunto de ações que levam à violência obstétrica, entre outras, muitas vezes de forma naturalizada, ou seja, como se fosse normal não acolher, tirar os direitos adquiridos, como a presença do pai ou familiar, promover a episiotomia sem o devido cuidado, entre outros aspectos. Para Daniela não existe o natural consolidado, existe o respeito à dignidade da mulher, em especial num momento em que ela está tão fragilizada quanto na hora do parto.
EMPATIA
Na parte da tarde, o tema foi aprofundado, tocando nas causas da violência obstétrica na diversidade social de igualdade de gêneros. O palestrante Rodrigo Dalosto Smolareck tem vasto currículo pedagógico e de consultoria e foi o coordenador do Núcleo Psicopedagógico da Santa Casa de Alegrete e é membro da Associação Brasileira de Psicopedagogia.
Com uma empatia acentuada, Rodrigo conquistou os presentes pela forma como tratou o tema da humanização, principalmente, fazendo com que todos pensem sobre a importância de antes de qualquer decisão ou julgamento, que cada cidadão possa se colocar no lugar do outro. Este é um exercício que ajuda a enxergar a vida com mais humanidade, disse o palestrante.
SEQUELAS
Na sequência, foi apresentada uma dinâmica teatral sobre o tema com apresentação da peça “SEQUELAS”, tratando de um cenário, onde as atrizes Gianna Soccol e Letícia Pagot, dirigidas por Diego Ferreira, partem de relatos reais de pacientes e trabalham de forma sensível, dando o tom das marcas que são deixadas para o resto de suas vidas.
Impactante, ao final da peça foram muito aplaudidos por um público emocionado, onde muitos relembraram situações vividas pessoalmente ou por alguém próximo. Um espetáculo com base em fatos reais de forte significado.
Projeto de Lei
Presidente da Procuradoria da Mulher da Assembléia Legislativa. a deputada Manuela d Ávila (PCdoB) produziu um projeto de lei tratando da questão da violência obstétrica, inspirada em lei já em vigor em Santa Catarina. Antes de ser protocolada, no entanto, a matéria será debatida por um grupo de trabalho, integrado por profissionais da saúde e por mulheres. O anúncio desta medida foi levado ao encontro pela assessora parlamentar Cristina Machado.
Sindisaúdes
Participaram os Sindisaúdes filiados à FEESSERS: Caxias do Sul, Cruz Alta, Bagé, Pelotas, Santiago, São Borja, Santa Rosa, Santa Cruz do Sul, Rosário do Su, São Gabriel, Vale do Sinos, Vale do Taquari, Alegrete, Rio Grande, Novo Hamburgo, Montenegro.
MOVIMENTOS SOCIAIS
Com a aprovação da reforma trabalhista, os sindicatos precisam se reinventar, anunciou o secretário geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Saúde – CNTS Valdirlei Castagna. O momento é grave para os trabalhadores, porque o golpe imposto ao país parece não ter limites para retirar direitos e fazer voltar o período da escravidão.
Show especial
Ao final do Seminário, os participantes se deliciaram com um coquetel enquanto apreciavam a música e o embalo dos guris de Tupaciretã, base do Sindiesca: Douglas Padilha de Padilha (voz) e Jonas de Souza César (violão). O entusiasmo foi grande e o povo caiu na dança.
Inara Claro com Rosa Pitsch